Escritor, professor universitário de Comunicação Social e
eleito deputado federal pelo PSOL-RJ para o mandato 2011-2015, Jean Wyllys tem
sido uma referência na defesa, luta e debate público dos Direitos Humanos;
direitos LGBT; pluralismo religioso e cultura. Atua em dez frentes e comissões
na Câmara dos Deputados e recebeu condecorações e menções de reconhecimento de
seu trabalho, como a medalha Pedro Ernesto (CVRJ) e o prêmio de melhor deputado
pelo site Congresso em Foco. É também colunista na revista Carta Capital.
Abrasco: Como
respeitar às religiosidades e seus fundamentos sem incorrer nos erros e abusos
de poder dos pensamentos teocráticos que ecoam na sociedade brasileira?
Jean Wyllys: O único meio é o fortalecimento da laicidade
como componente fundamental do Estado brasileiro. Um Estado laico não tem
paixão religiosa, mas, ao mesmo tempo, assegura a cada indivíduo e a cada grupo
que professe a religião que melhor lhes responde filosoficamente as questões do
mundo. O Brasil é um país plurirreligioso, todas as religiões colaboraram para
o que chamamos de identidade nacional e não se pode esquecer isto. Respeitamos
as religiões, asseguramos a liberdade de crença e é necessário que o Estado
esteja protegido da influência de grupos para assim trabalhar por todos.
Abrasco: Como a
sociedade civil e os poderes republicanos podem e devem enfrentar o problema da
discriminação social em nosso país?
Jean Wyllys: Os poderes executivos devem deixar claro que as
questões da fé privada não podem interferir na gestão pública. Isso deve ser
passado como receita a cada contratação, promoção, a cada novo mandato. O
presidente da República; governadores; prefeitos, e seus secretários e
ministros não podem estar sob pressão de grupos religiosos na hora de elaborar
e executar políticas públicas. No âmbito do legislativo, temos de fazer valer a
defesa da Constituição Cidadã feita por todos os parlamentares no juramento de
posse. Entre esses fundamentos, consta o artigo 5º, que garante que somos todos
iguais perante a lei. Se o parlamento tomar esse cuidado e a sociedade
acompanhar este cumprimento, a bancada religiosa não poderá propor projetos que
contrariam os princípios da dignidade humana. O Judiciário também tem de
trabalhar numa perspectiva laica, impedindo qualquer juiz de agir ou confundir
suas ideias pessoais de Justiça com os dogmas da sua fé.
Abrasco: Qual é a importância da Academia e
das suas entidades científicas, como a Abrasco, debaterem os grandes temas
sociedade em seus encontros, como no VI Congresso Brasileiro de Ciências
Sociais e Humanas em Saúde?
Jean Wyllys: A academia é um lugar de produção e reprodução
do saber científico, saber este que se coloca em permanente revisão e não
reivindica valores atemporais e absolutos, posições fundamentais na construção
do imaginário e do bem estar social. As universidades têm de aprofundar essa
função e espaço de confrontação com o senso comum. Os professores e chefes de
departamento não podem ter medo dos preconceitos que muitos alunos trazem
quando são aprovados, não devem se curvar a situações estúpidas e pressões,
principalmente em instituições privadas. O professor não pode fugir a missão de
construir cidadãos capazes de fazer suas leituras críticas do mundo e
desenvolverem aquilo que Hannah Arendt chama de vida com pensamento. O papel da
academia é construir vida com pensamento e, por isso, espaços o Congresso da
Abrasco são importantíssimos para essa discussão. Fico feliz dele se realizar e
de ter sido convidado, o que espero retribuir com minha presença e colaboração.
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