quinta-feira

África na Cultura Brasileira



Na cultura brasileira a África é sempre tratada como distante.

* Henrique Cunha Júnior


A idéia de distante reflete outro estereotipo que é a idéia da falta de integração da África aos espaços econômicos mundiais.

Significa que ficou isolada e atrasada até o dia que os europeus correram ao seu socorro. Na versão brasileira a África é ausente das integrações internas e externas ao continente.

Este isolamento é tido como quebrado com a chegada do Português no Reino do Congo em 1484.

Nos é dado a idéia que o português não conhecia a África anterior a esta data e que os africanos não conheciam a Europa.

A integração econômica milenar da África, interna e externa pode ser trabalhada pelas rotas comerciais das caravanas comerciais que cruzam todo continente e se estendem pela Europa e Ásia chegando a Índia e China.

Um bom material de argumentação, são as gravuras de africanos nas cortes chinesas presenteando com produtos africanos e animais como a girafa.

Estas gravuras datam de 1383. Uma discussão mais profunda da integração africana à economia mundial pode ser tida pelas viagens de navegadores e africanos à América em períodos anteriores a Colombo.

Viagens realizadas periodicamente e em períodos históricos amplos como são as trocas entre as civilizações da América Central e os Egípcios, ou entre Malianos e Caribenhos.

A chegada dos europeus através dos portugueses na África não é acompanhada de um raciocínio sobre a presença negra na Europa e da presença européia na África anterior à esta época.

Pouco se tem conhecimento da existência das Cruzadas, negros combatendo ao lado de Cruzadas de brancos. São raros os que examinam as origens das imagens de santos negros nas igrejas católicas européias ou de imagens negras nas catedrais alemãs da Idade Média.

Estas imagens atestam em profundo contato entre africanos e europeus no século 13. Ademais, as figuras negras aparecem com a mesma dignidade e importância das figuras brancas.

A expansão incrível do Império Romano não é intermediada no imaginário brasileiro como a possibilidade de trocas existentes entre africanos e europeus anteriores a 1484, ou seja, no início da expansão comercial portuguesa.
A idéia de isolamento africano é fundamental na manipulação dos mitos sobre a raça e miscigenação racial ocorridas no Brasil.

Fala-se dessas categorias partindo de uma idéia absurda de que africanos, europeus e asiáticos não haviam realizado imensa troca de experiências genéticas anterior a colonização brasileira. Como se não tivesse havido intensa miscegenação anterior a colonização do Brasil. Isto leva a pensar na fixação destrutiva e racista de raças puras e impuras.

O método de isolamento africano é estrutural ao pensamento racista brasileiro. Ele faz questão de desconhecer a espécie humana como um híbrido resultante de processos milenares de troca de população.

Daí elege o Brasil e unicamente o Brasil como país de existência de misturas de populações diversas. Somos incapazes de saber que nenhum europeu, loiro ou não, pode reivindicar a ausência do gen. africano na sua história genética.

Portanto, as misturas populacionais, as misturas étnicas são próprias da espécie humana e não ocorrem pela "grandeza de espírito do português pelo Brasil".

* Henrique Cunha Júnior, é professor de História na Universidade Federal do Ceará.
Nota: Amigas e queridos navegantes, chegamos ao final do material reproduzido aqui de autoria do Professor Henrique Cunha Júnior, espero que tenham gostado, que tenha servido para incentivar outras pesquisas, outros informes, outros olhares sobre a nossa história!
Desejamos à todas um Axé de Luz e muita Prosperidade, lembre-se, " sabedoria não ocupa lugar".
" Somos a Memória que não se Cala!"

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