quarta-feira

Feudalismo

Feudalismo

Ontem eu lia as cartas enviadas por Antônio Gramsci 'comunista preso pelo governo facista italiano' à sua família e me deparei com uma em especial para a sua esposa. Gramsci argumentava que nada deveria ser escondido entre os dois sob pena de continuar reproduzindo o tipo de família feudal. Reproduzo aqui as palavras de Antônio:

“ Não nos havíamos prometido ser sempre francos e verdadeiros ao nos informarmos reciprocamente sobre nós mesmos? Lembra? Por que não mantivemos a palavra? Por que não rompemos absolutamente com estes modos de conduta que têm sabor de vida feudal, de domostroi, de legislação inglesa do século XVII?”

Cacete, o cara escreveu isso em 13 de janeiro de 1931, fraco, dentro de uma cadeia. Incrível como podemos ter chegado a uma época na qual se fala de pós-modernidade e ainda estabelecemos relações amorosas no estilo feudal. Tranformamos o mundo de maneira espantosa, nossa alface possui um gene que pode não causar nenhum problema, ou nos fazer ter filho com três pernas ( ainda teremos que esperar para ver os efeitos), podemos escolher o sexo das crianças, podemos construir ilhas no meios do deserto e não somos capazes de ser sinceros.

É nesse momento que penso em outro escritor, Nelson Rodrigues, o mais delicioso machista já nascido. Este dizia que educação sexual em escolas era um absurdo pelo simples fato de sexo ser algo natural, aprenderemos de qualquer maneira, sexo é nosso lado animal. O que deveríamos aprender era educação amorosa. Tá ai algo que não sabemos fazer, amar. E amar aos moldes de Gramsci, rompendo com toda a carga de dominação que nos foi imposta, vendo o parceiro como humano, permitindo-nos conhecê-lo em sua plenitude e sermos conhecidos também. Chega de “isso é coisa de homem, isso é coisa de mulher”. Deixemos que cada um faça aquilo para o qual tenha mais talento e digamos tudo o que temos guardado dentro de nós. Sejamos sinceros e não nos assustemos com a sinceridade alheia. Rompamos com esse mundo familiar bipolarizado, onde o homem e mulher possuem papéis definidos, onde sua atitudes são definidas pelo que existe entre suas pernas. Nos vejamos com humanos.

Não é fácil romper com dois mil anos de cultura cristã definindo nossas atitudes, mas precisamos fazê-lo. Como? Ai vão algumas sugestões:

Divida a conta. Fomos impedidas durante centenas de séculos de nos sustentarmos e assim ficamos dependentes dos homens.

Faça sexo sempre que tiver vontade e não faça quando o filme da tela-quente estiver mais interessante.

Permita que seu companheiro também possa fazer a mesma coisa.

Vá embora quando a relação não te fizer mais feliz e deixe o outro ir quando for a vontade dele.

Não atribua papéis ao seu companheiro(a) em razão do que foi escrito na sua certidão de nascimento no campo sexo.

Não aceite nunca a justificativa: Mas eu sou homem!! Ou eu sou Mulher!! Empatia resolve nesse momento, inverta a situação e pergunte se a lógica sexista funciona.

Está ai uma boa promessa para 2008: Libertar-se do feudalismo!!!!!!


O que importa são os amigos, a vida, e esse mundo injusto que temos a obrigação de modificar.


Nessa Gil

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