segunda-feira

Milton Gonçalves, muito Axé para tí !!!!!!!!!!


Entrevista/Milton Gonçalves
"A corrupção existe desde que o mundo é mundo. Hoje virou epidemia, está escrachada"

Redação TV - Estado de Minas

Em A favorita, Romildo (Milton Gonçalves) é um político corrupto, pai de Alícia (Taís Araújo)
“Meu preconceito é contra o chato, o mal educado”
O político Romildo Rosa, personagem de A favorita, da Globo, tem dado dor de cabeça a seu intérprete. Milton Gonçalves é criticado por dar vida a um vilão negro na novela, o que poderia prejudicar qualquer político negro na vida real às vésperas das eleições municipais. Nesta entrevista exclusiva, o ator rebate a acusação e surpreende ao defender o personagem. Ele ainda fala sobre corrupção e discute o espaço do negro na teledramaturgia.
O senhor diz que definir Romildo como um político corrupto é pouco.

O que quer dizer com isso?

Ao longo da vida, a gente vai aprendendo que ninguém é só azul ou só amarelo, é a somatória de um conjunto de cores. Pelo fato de ser negro e pobre, Romildo cresceu lutando contra uma sociedade hostil. Ele teve de escolher alguns caminhos. Ninguém é 100% perfeito. Todo mundo olha ali e se permite pensar “se fizesse aquilo, daria certo”. Estou defendendo o personagem. Deve haver uma redenção no futuro.

Quais as reações que ele provoca?

Algumas pessoas têm reclamado, me mandaram um e-mail dizendo que ao realizar um personagem corrupto negro estava, de alguma forma, prejudicando algumas candidaturas negras nas próximas eleições municipais. Acho que não. Romildo é só um personagem. Em vez de ser tomado como exemplo, deve ser tomado como tipo que viceja no Brasil há 500 anos.Alguns atores reclamam que os papéis destinados aos negros na TV são sempre pequenos. Agora, um ator negro foi escalado para um papel de destaque e surge essa reclamação.

Qual é o problema?

Não sou psicólogo, mas sou metido a psicólogo e vou me permitir dizer que é síndrome de ser como o Romildo e ao mesmo tempo não ter a ousadia dele. A grande maioria (da população) é de negros e afins, e as cidades não têm vereador ou prefeito negros. Não sei dizer se (os negros) não são conscientizados e nem quero saber. Mas quando é que a Bahia, a terra mais negra do Brasil, teve um governador ou prefeito negro?

Esperava polêmica?

O Romildo é, acima de tudo, um personagem emblemático. É um homem com recursos, mora bem, mas teve uma vida difícil. Essa dificuldade de alcançar postos na sociedade não é uma luta só do negro, é do homem. Quando aparece personagem assim, incomoda. Ele é negro e bota o dedo na cara dos outros, muita gente acha que é muita coisa. Ou deveria ser só negro ou só rico ou só corrupto.

Na sinopse, Romildo era apenas um vilão ou era um vilão negro, para criar polêmica?

O papel foi escrito para mim. O autor, que é o mesmo de Cobras & Lagartos (2006), estava me devendo um personagem assim. Estou muito feliz com esse trabalho, sou representante do (movimento) O que você tem a ver com a corrupção?.

E o que você tem a ver com a corrupção?

A corrupção existe desde que o mundo é mundo. Hoje virou epidemia, está escrachada. Mas eu não quero ser desonesto. Pago as minhas multas, não quero que me perdoem. Se acho que o sinal de trânsito foi adulterado – e acho que um foi aqui no Rio de Janeiro –, reclamo. O negócio é andar na linha e botar a boca no trombone.

O brasileiro anda apático diante da corrupção?

Não sei se apático, mas está deixando de reagir. Como pode aceitar que o Exército vá à favela para prender três rapazes e entregar à facção rival? Em São Paulo, não se pode ir a certos lugares por causa da violência. A corrupção e o desrespeito viraram coisas normais. A gente tem de reagir. Não pode ser assim, não deve. Para existir corrupção, é preciso haver corruptor. Não corrompa, não dê bola para o guarda não multá-lo.

Taís Araújo diz que não gostaria mais de ver escrito na sinopse da novela “mulher negra”...
(Interrompendo) A frase não é dela, é minha. Na verdade, é de alguém que não me lembro. Tem que sumir “ator negro”, tem que sumir “atriz negra”. A não ser que seja uma coisa fundamental na trama. Não sendo, não tem por que rubricar “ator negro”.

Como aprendeu a lidar com o preconceito?

Sempre bati de frente com as questões que me incomodavam. Encarei 90% e sofri 10%. Lá atrás, perguntei para a minha mulher: “Você sabe que terá filhos negros, o que posso fazer para que eles não sofram?” Ela respondeu: “Cultura, a gente pode dar cultura para eles”. Foi o que fizemos. Meus filhos são educados, letrados, foram incentivados à leitura, à história do país, à sociologia. Mas eles tiveram dor algumas vezes, eram pássaros fora do ninho. Em um universo de 2 mil alunos (no colégio em que estudavam), se havia 10 negros era muito.

Falando em preconceito, quais são os seus preconceitos?

Tenho todos os preconceitos e luto contra todos. Estão dentro de mim. Escorrego e peço perdão. Agora, não sou homofóbico. Não poderia. O filme do Antonio Carlos da Fontoura (A rainha diaba, de 1974, em que faz um gay) me deu muitos prêmios. Meu preconceito é contra o chato, o mal educado, seja negro, índio...
Nota: Lemos, gostamos e estamos repinicando, coragem é o que não falta ao essencial ator, Milton Gonçalves, cidadão deste Brasil!
Navegantes, uma semana de trabalho cheia de luz e de sucesso!
" Somos a Memória que não se Cala!"

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